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terça-feira, 06 abril 2021 11:21

Xinholo ou Tartaruga Marinha: a convergência entre o conhecimento local e científico

Tartaruga marinha Tartaruga marinha

Xinholo é a designação que se dá à tartaruga marinha na região do Parque Nacional do Arquipélago de Bazaruto que, inclui quatro ilhas: Benguerrua, Magaruque, Santa Carolina e Bazaruto. É um réptil marinho, conhecido pela sua sabedoria e inteligência, razão pela qual tem sido apelidado de animal mais sábio do mar, daí a sua longevidade, segundo explicou Manuel Zivane.

O Xinholo é um animal com muitas qualidades, embora a aparente lentidão e passividade. Ele é tenaz, forte e corajoso, por isso, é considerado na ilha de Magaruque, símbolo de resiliência, passando o seguinte ensinamento: Mesmo devagar, siga em frente. O importante é a persistência!

Foi com esta breve descrição, que Manuel Zivane, um pescador com dezassete anos de experiência no mergulho, contou-nos sobre a tartaruga marinha. Numa altura em que a sua caça é proibida por Lei – ele é classificado como animal em vias de extinção. Manuel Zivane também corrobora com esta ideia, o qual acrescenta que a tartaruga marinha merece proteção e carinho do homem.

Cientificamente, as tartarugas marinhas são conhecidas como sentinelas do mar, elas desempenham um papel fundamental nos ecossistemas marinhos. Estas são como “espécies-chave”, que se alimentam de uma variedade diversa de outras espécies, de alforrecas (tartaruga de couro), esponjas (tartaruga bico de falcão), ervas marinhas (tartaruga verde), elas moldam o ambiente ao seu redor e ajudam a manter saudáveis recifes de coral e outros ecossistemas marinhos, que por sua vez produzem uma série de benefícios para os seres humanos (BIOFUND)

Segundo Manuel Zivane, a tartaruga marinha é facilmente observável através de mergulho ou "diving”. A nossa fonte explicou que Xinholo é um animal que não gosta de se misturar aos demais, dispondo de seu próprio habitat entre as algas e coral, nas profundezas do mar. Por esse estilo de vida, a tartaruga marinha, livra-se de conflitos com outras espécies, não por ser fraco mas, pela sua sabedoria.

O ilhéu contou que a tartaruga marinha é muito solidária ao homem, chegando a salvar este em caso de acidentes marinhos. Bastante temido por outros animais do seu habitat, o Xinholo, é considerado como um Deus do mar. Apercebendo-se de ocorrência de um naufrágio, a tartaruga marinha faz-se ao local, para afugentar predadores marinhos como o tubarão, disse Manuel Zivane.

A tartaruga coloca-se em frente dos sobreviventes para lhes indicar a via segura por onde estes devem nadar, ao mesmo tempo orienta-os para um banco de areia para poderem descansar e seguir o nado com mais fôlego. A tartaruga gigante é capaz de carregar um sobrevivente para a margem, bastando para tal, uma boa interpretação da intenção da tartaruga por parte do naufrago

Zivane citou um famoso mito de um antigo residente da ilha, chamado Tchefulo. Segundo contou, Tchefulo estando em plena actividade pesqueira, eis que foi surpreendido por um súbito temporal, vindo do alto mar. A canoa em que este viajava virou e,Tchefulo foi engolindo pelas águas.

Sendo o local do incidente uma zona conhecida como habitat de tubarões, não se esperava que o velho Tchefulo, um líder tradicional, sobrevivesse. Graças à intervenção de Xinholo, ele chegou à margem, salvo. Havia dois dias sem sinal do velho Tchefulo, e eis que numa manhã, pescadores que se faziam ao mar para lançar as redes, se deparam com um homem deitado na praia , como se tivesse sido arrastado pelas ondas. Sem roupa, semi desfalecido e sem voz. Era o velho Tchefulo.

Na sua inocência, nem soube contar o que realmente lhe tinha acontecido, lembrando simplesmente do momento do temporal quando virou o seu "coxo"- canoa. É daí que os Ilhéus, na falta de uma explicação que lhes convencesse, construíram a válida teoria de uma tartaruga marinha amiga, que salvou o velho Tchefulo, disse Manuel Zivane, que na altura dos factos, tinha apenas sete anos.

Este mito é transmitido até hoje à novas gerações, como forma de tornar viva a ideia de que Xinholo é amigo do homem. Para os Ilhéus, a tartaruga marinha também ajuda o pescador a encontrar melhor zona de pesca. Segundo Manuel Zivane, os pescadores ao notar a existência de uma tartaruga marinha nas águas onde estão a pescar, entendem que estão bem encaminhados. Estes ficam atentos aos sinais da tartaruga. Ao vê-la deslocar-se, os pescadores percebem que a tartaruga marinha está a convidar-los a mudar de lugar para onde possam capturar peixe em abundância.

Como forma de retribuir o bondoso gesto da tartaruga, em caso de uma tartaruga cair nas malhas da rede dos pescadores, eles a devolvem ao seu habitat.
Para os residentes do Arquipélago, a tartaruga marinha constitui uma identidade cujos traços de ligação são muito fortes. É para eles, um animal sagrado. O consumo de sua carne, é expressamente proibido entre os habitantes da Ilha, o que foi reforçado pela Lei.

 

Escrito por Amadeu Quehá para Tsevele

 

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