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terça-feira, 13 abril 2021 11:19

Dança Niketxe: do simbolismo aos mitos

Praticante da dança Niketxe: Praticante da dança Niketxe:

Niketxe é uma dança tradicional praticada no norte da província da Zambézia, concretamente no distrito de Namarroi, 230km da cidade capital Quelimane. A dança é caracterizada pelo uso de cobras venenosas vivas, colocadas no pescoço, nas mãos e na cintura dos dançarinos, entre mulheres e homens.

Origem da dança Niketxe.
Dados orais indicam que a dança surgiu numa altura em que a população de Namarrói procurava formas de reivindicação durante a época colonial e ao mesmo de agradecimento aos espíritos após ocorrência de chuvas ou outro fenómeno natural esperado pela comunidade local.

De acordo com Jorgina Hemílio uma nativa de Namarrói, vários chefes de famílias eram recrutados para trabalhar nas plantações de chá e algodão, e como forma de reivindicação dessa exploração, as comunidades organizavam-se e faziam a dança Niketxe na frente dos colonos onde ao mesmo se entretinham enquanto contestavam o trabalho doloroso.

Outra explicação da dança aponta que a mesma surge através de uma rainha chamada Yáviya, que tivera um sonho com um medicamento de cobra que quando aplicado às pessoas as cobras não faziam mal algum.

Isso explica o facto de antes de se executar esta dança, os dançarinos passam por um ritual onde ficam fechados durante uma semana dentro de uma casa, proibidos de manter relações sexuais e de ter contacto com o mundo exterior.

Depois de uma semana dentro desta casa, sem tomar banho, fazendo o tratamento, saem à caça das cobras onde, perseguem-nas com ajuda de um medicamento tradicional que, por causa do cheiro facilita a captura das cobras.

As cobras capturadas lhes são removidos dentes e são alimentadas com farinha e ovos de galinha durante dois dias. Posteriormente são guardadas em uma maleta. De acordo com a nativa, são somente usadas cobras mambas verdes e não outro tipo, pois existem cobras muito perigosas que não podem ser levadas ao público.

A dança é praticada por homens e mulheres que colocam as cobras no pescoço, na cintura e nas mãos. A nossa entrevistada afirma que a dança não pode durar mais de uma hora pois, segundo a sua explicação, passado este período, os dentes que tinham sido removidos ficam rijos e as cobras começam a tomar o seu comportamento natural, podendo assim atacar as pessoas.

O fenómeno que acorreu e que foi necessário a dança da cobra em 2012
Em 2012, no distrito de Namarroi ocorreu um fenómeno natural próximo de uma montanha, na fonte onde canalizam água daquele distrito. Foi encontrada uma cova muito grande com formato de um aquário contendo um liquido que se assemelhava a papas grossas de farinha de mapira. Quando as pessoas aproximassem começavam a chorar. O líquido sujou toda água da fonte de abastecimento, e nas torneiras jorrava também o liquido com aspecto de papas de farinha de mapira durante um mês .Daí a Rainha Yáviya foi revelada em sonho que devia realizar uma cerimónia.

Por causa do tamanho do problema, o governo daquele distrito convocou a Rainha e alguns grupos culturais para se fazer a cerimónia, e se fez a dança da cobra, e passado uma semana, a água da fonte ficou limpa e as papas que saiam daquela cova desapareceram e só depois das cheias de 2015 a cova desapareceu misteriosamente, deixando o local irreconhecível.

Infelizmente a Rainha Yáviya faleceu em 2018 com aproximadamente mais de 90 anos, deixando os seus trabalhos com o seu bisneto de apenas 16 anos de idade, que segue os mesmos passos.

Na governação do antigo presidente Armando Guebuza, houve uma orientação segundo a qual a dança Niketxe não precisava passar peloas concursos de apuramento aos festivais culturais provinciais e nacionais, devia entrada automática, dado o seu simbolismo e a coragem dos dançarinos.

Escrito por Edmilson Mucuala para Tsevele

 

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