Descrita pela primeira vez em 1851 por Giuseppe Bertoloni em Moçambique, Mukovela é cientificamente designada Encephalartos ferox, uma espécie sul-africana pertencente a família Zamiaceae do gênero Encephalartos. A mesma é comumente encontrada na sombra da floresta nas margens de dunas e em pastagem arborizada onde pode ocorrer em grande número, às vezes ocorrendo dentro de 50m da praia. As plantas são geralmente monocaules ou raramente ramificados, formando algumas vezes touceiras a partir de brotações produzidas na base (fonte: http://pza.sanbi.org/encephalartos-ferox)
Entrevistámos a senhora Rosa Boane, residente em Machuquele. Contou-nos a sua experiência em relação a esta planta, considerada por pessoas da sua geração como uma tábua de salvação na "fome de 83".
Em 1983, a região sul de Moçambique viu-se mergulhada numa crise alimentar profunda, devido à estiagem. Sem chuva para a produção das habituais culturas como a mexoeira e o milho, as comunidades não tiveram outra alternativa senão inventar um alimento que curiosamente se encontrava em abundância, na região de Machecane.
Pessoas oriundas dos vários povoados da localidade de Quewene e Belane, viajavam a "Tadimi". Era lá onde podiam encontrar a Mukovela que, graças às propriedades da sua raiz, podia servir de alimento para o ser humano, depois de transformada em xima de Mukovela.
Rosa Boane explicou que da planta da Mukovela, e para produzir a farinha para a xima, usa-se a raiz (tuberculo). Uma vez derrubada a planta para a obtenção da raiz, esta deve ser descascada com recurso a faca. Seguidamente, corta-se em pedaços. Depois, é preciso retirar-se, cuidadosamente, a medula designada "xiloyi", localizada ao meio da raiz. Esta substância deve ser totalmente removida por ser toxica, quando consumida.
Depois de remover "xiloyi", enterra-se a raiz por um período de duas semanas. Depois, desenterra-se e põe-se ao sol, até secar o bastante.
Começa então, o processo de fabricação de farinha. Levam-se os pedaços já secos para o pilão. Pila-se e peneira-se bastas vezes até obter a farinha necessária para confeccionar a xima de Mukovela. O processo nesta fase é idêntico ao da preparação de xima de outras culturas como milho ou mapira.
E pronto. A xima de Mukovela era assim obtida.
A nossa fonte, disse que foi graças à Mukovela, que ela e sua família, sobreviveram à "fome de 83".
Nos dias actuais, a planta de Mukovela não é mais usada como alimento. Porém, ela é vista em jardins caseiros, servindo como planta de ornamentação, devido o seu verde claro atraente.
Escrito por Amadeu Quehá para Tsevele