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terça-feira, 11 maio 2021 12:17

Mukovela (Encephalartos ferox): mais que uma planta de ornamentação

Encephalartos ferox ou Mukovela Encephalartos ferox ou Mukovela

Mukovela é nome de uma planta silvestre, predominantemente encontrada nas matas da região de "Tadimi", povoado de Machecane, uma região situada à beira do oceano Índico, no distrito de Vilankulo. A Mukovela, assim denominada em língua local Xitswa, ficou muito conhecida devido à utilidade que teve durante os tempos de estiagem que os povos locais viveram na década de 80, do século passado.

Descrita pela primeira vez em 1851 por Giuseppe Bertoloni em Moçambique, Mukovela é cientificamente designada Encephalartos ferox,  uma espécie sul-africana pertencente a família Zamiaceae do gênero Encephalartos. A mesma é comumente encontrada na sombra da floresta nas margens de dunas e em pastagem arborizada onde pode ocorrer em grande número, às vezes ocorrendo dentro de 50m da praia. As plantas são geralmente monocaules ou raramente ramificados, formando algumas vezes touceiras a partir de brotações produzidas na base (fonte: http://pza.sanbi.org/encephalartos-ferox)

Entrevistámos a senhora Rosa Boane, residente em Machuquele. Contou-nos a sua experiência em relação a esta planta, considerada por pessoas da sua geração como uma tábua de salvação na "fome de 83".

Em 1983, a região sul de Moçambique viu-se mergulhada numa crise alimentar profunda, devido à estiagem. Sem chuva para a produção das habituais culturas como a mexoeira e o milho, as comunidades não tiveram  outra alternativa senão  inventar um alimento que curiosamente se encontrava  em abundância, na região de Machecane.

Pessoas oriundas dos vários povoados da localidade de Quewene e Belane, viajavam a "Tadimi". Era lá onde podiam encontrar a Mukovela que, graças às propriedades da sua raiz, podia servir de alimento para o ser humano, depois de  transformada em xima de Mukovela.

Rosa Boane explicou que da planta da Mukovela, e para produzir a farinha para a xima, usa-se a raiz (tuberculo). Uma vez derrubada a planta para a obtenção da raiz, esta deve ser descascada com recurso a faca. Seguidamente, corta-se em pedaços. Depois, é preciso retirar-se, cuidadosamente, a medula designada "xiloyi", localizada ao meio da raiz. Esta substância deve ser totalmente removida por ser toxica, quando consumida.

Depois de remover "xiloyi", enterra-se a raiz por um período de duas semanas. Depois, desenterra-se e põe-se ao sol, até secar o bastante.

Começa então, o processo de fabricação de farinha. Levam-se os pedaços já secos para o pilão. Pila-se e peneira-se bastas vezes até obter a farinha necessária para confeccionar a xima de Mukovela. O processo nesta fase é idêntico ao da preparação de xima de outras culturas como milho ou mapira.

E pronto. A xima de Mukovela era assim obtida. 

A nossa fonte, disse que foi graças à Mukovela, que ela e sua família, sobreviveram à "fome de 83".

Nos dias actuais, a planta de Mukovela não é mais usada como alimento. Porém, ela é vista em jardins caseiros, servindo como planta de ornamentação, devido o seu verde claro atraente.

 

Escrito por Amadeu Quehá para Tsevele

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