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terça-feira, 05 outubro 2021 19:32

FUMA: uma exótica sugestão gastronómica da natureza

Makwakwa-FUMA Makwakwa-FUMA

A/O Fuma é um tipo de Molina produzido com base em "tihwakwa" - sementes dos frutos da planta silvestre denominada kwakwa ou makuakua, da família Leguminaceae, da espécie Strychnos inocua Del, originária de Moçambique.

Este alimento é típico das regiões do interior da província de Inhambane, em particular onde há ocorrência frequente de bolsas de fome devido a condições climatéricas não favoráveis à prática da agricultura.

A fuma é muito bem conhecida nas regiões dos distritos de Mabote, Funhalouro, e um pouco Massinga, mas é consumida em todo o litoral da província de Inhambane.

As comunidades nestes distritos contam que a tihwakwa, (semente de makwakwa-da qual se obtém a Molina fuma) foi adoptada como alimento em tempos de crises alimentares, como forma de salvar os povos nativos de fomes prolongadas.

Actualmente, a FUMA constitui um alimento cujo valor se estende para além da província e do país. Embora com alguma raridade, é possível encontrar na cidade Vilankulo, mamanas que preservam esta identidade cultural, produzindo a fuma para o consumo e para a venda.

Constitui uma riqueza cultural, que agora é também fonte de renda da mamã Isabel que, na sua terceira idade, ainda encontra força suficiente para produzir a fuma. Durante uma conversa, ficamos a saber que antigamente a fuma era produzida exclusivamente para o consumo familiar. Era um alimento que não podia faltar nas cerimónias mais importantes da aldeia, especialmente tradicionais onde espíritos de ancestrais que em vida adoravam esta molina, eram oferecidos pelos vivos.

A fuma, sendo um alimento especial, era igualmente oferecida ao noivo na noite do casamento. Contudo, hoje, com o passar do tempo e o dinamismo das sociedades, a fuma é vendida a indivíduos de outras culturas que uma vez tendo provado, ficam com a vontade de voltar a saborear.

Turistas que escalam Vilankulo e outros pontos onde esta iguaria é produzida, vêem neste alimento a verdadeira gastronomia africana.

Segundo a nossa fonte, os antepassados levavam consigo a fuma dentro de "njenjela" (sacola feita de palha), para servir de acompanhante durante as longas viagens (a pé).

Ficamos a saber da manhã Isabel, quais os procedimentos para se ter a fuma na mesa. Primeiro recolhe-se "makwakwa" maduros e caídos. Quando maduros, os makwakwas - são de cor amarela, com um aroma bastante agradável, que contém por dentro, a "tihwakwa"

Posto isto, parte-se a makwakwa e estende-se as sementes ou tikwakwas em uma esteira ou tapete para secar. Enquanto as tikwakwas secam, prepara-se o nzimbo-forno (um forno especial que se faz num buraco, igual ao feito para se prepara tapioca). Porém, neste caso, no topo do buraco (forno), estende-se "litsumbi", feito um tapete.

É neste tapete onde se espalha a "tihwakwa" semi seca, para um procedimento chamado "ku nrimba"- assar. Depois de “assadas” as tihwakwas, põe-se a arrefecer.

Segue-se um outro procedimento designado "ku vangulela", ou seja, retirada da semente, para a aquisição do seu revestimento,  a matéria prima necessária.

Importa salientar que depois de obter o revestimento das sementes, estas já são inúteis devendo ser deitadas longe do alcance das pessoas, devido à comunicação que estas estabelecem com os raios em casos de trovões, conta a nossa fonte.

Junta-se os revestimentos das sementes que novamente são devolvidos ao tapete, para "ku rimba".

Concluída esta fase, segue se a fase de pilar. Coloca-se os revestimentos das sementes num pilão. Esmaga-se até que se torne farinha, num processo de peneiração. Depois tira-se o conteúdo do pilão para um recipiente, e já está.

De acordo com mamã Isabel, a fuma, tal como outras comidas tradicionais, é recomendada para o tratamento de doenças relacionadas com hipertensão.

Escrito por Amadeu Quehá para Tsevele

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