Muito mais se extrai do coqueiro. No texto de hoje, trazemos até si a SURA, uma bebida que se extrai nervura da copa do coqueiro ou os “ramos”, em algumas regiões designada “macote ou macuti”.
Processo de extração de sura
Para começar, corta-se a espata pelo caule (o “ramo” que brota as flores que depois se transformam em coco) , removendo a parte que segura os cocos. Note que esta deve ser ainda fresca, tenra, ainda no estágio de crescimento. A parte que fica no coqueiro é que serve para o processo. Esta é cortada nas extremidades de modo a que fique uma ponta dobrável.
Passados alguns dias, a carapaça que a envolve e amarra-se com palha outra corda, de modo que esteja bem firme. Por alguns dias vai-se monitorando, até apresentar os primeiros pingos. Quando esta começa a libertar os primeiros pingos do líquido esbranquiçado, amarra-se um recipiente por baixo da espata, que pode ser uma cabaça ou uma garrafa plástica cortada. Para evitar a entrada de abelhas ou sujidade (o que poderá comprometer o sabor e a qualidade da bebida) o recipiente é envolvido por uma espécie de rede, retirada do próprio coqueiro.
Este processo é repetido até acabar a espata, ou quando a sura já não mais pingar.
Quando começar a cortar sura no coqueiro?
Normalmente, a quantidade da sura jorrando pela espata vai aumentando a cada dia, e, dependendo da quantidade produzida, esta pode ser retirada entre uma a três vezes ao dia, explica João Agostinho, um kemi (designação local para pessoa que corta sura) desde 2015. Sempre depois de retirar a sura do recipiente, corta-se uma camada muito fina da espata, de modo a continuar a jorrar, continuou João, o qual acrescentou que no inverno, em contrapartida, abundância no verão.
É possível tirar a sura em coqueiros de qualquer idade, desde que já tenham começado a produzir coco, afinal é das espatas que esta é extraída. É possível extrair sura de qualquer "vassoura"; deve apenas certificar-se de verificar a idade. Se passar da fase em que ainda esteja tenra, já não é útil para cortar a sura.
Tipos de sura
Existe um tipo de sura, mas dois sabores: o amargo e o doce. João Agostinho refere que quando acabada de ser extraída, ela é tipicamente doce, momento em que é muito apreciada por quem não consome álcool. Depois de algum tempo a fermentar, esta torna-se amarga, tornando-se numa das bebidas mais exóticas e afrodisíacas produzidas em Moçambique.
Consumo
A sura pode ser usada para o consumo como bebida, em festas, convívios, bem como para a produção de bolos de sura.
Quando usada para o consumo como bebida, se sobrar, esta pode ser conservada para o dia seguinte e, para se voltar a consumir, basta acrescentar um pouco da sura doce, refere a Sra. Cândida Venâncio. Isto pode se repetir por quantas vezes forem necessárias, certo de que o seu sabor não vai alterar.
Este sumo natural pode também ser usado para fazer vinagre. Para tal coa-se a sura num bidão, posto isto tapa-se o mesmo com uma rolha de massaroca e cafurro previamente limpos (estes devem permitir uma ligeira entrada de ar), e enterra-se a uma profundidade suficiente para cobrir bem o recipiente. O bidão deve ficar por até três anos enterrado. Depois tira-se, coa-se novamente o conteúdo num outro bidão previamente limpo, tapa-se e enterra-se novamente, mas desta vez por um ano. Passado este período já está. Já é vinagre e pode ser consumido para temperar carnes, saladas, ou outro tipo de alimento, dependendo da preferência de cada um. A Sra. Cândida indica que "vinagre feito a base de sura é muito bom, é melhor até que o vinagre industrializado".
Escrito por Vanila Amadeu para Tsevele