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terça-feira, 23 maio 2023 14:43

Nguhune ou Mucucune: o lar dos Vatonga de Inhambane

vista parcial da Ilha de Mucucune vista parcial da Ilha de Mucucune

Mucucune é um bairro localizado ao longo da faixa costeira da Cidade de Inhambane, cuja história remonta antes mesmo da presença colonial em Moçambique. O nome tem origem em tempos nos quais a região era repleta de mafurreiras, designadas em gitonga por Nguhu, ao que passou a ilha a ser chamada Nguhune. Mais tarde, com o colono no país, a designação foi aportuguesada e tornou-se Mucucune.

Os primeiros habitantes da ilha foram os guiambas, provenientes de Inharrime, originalmente machopes, segundo conta Luís Camburra, natural e residente em Mucucune. Mas por causa das guerras do império de Ngungunhane, os guiambas fugiram de Inharrime e refugiaram-se na Ilha de Mucucune, na altura habitada apenas por animais.

Desde a era colonial que Mucucune é considerado bairro piloto, visto que é onde viviam originalmente os vatonga, etnia predominante na Cidade de Inhambane. Naquela época não se permitia na ilha a coabitação com outras etnias e os residentes eram considerados assimilados porque demonstravam uma “civilização”.

Refira-se que os ilhéus, no caso os vatonga, marcaram-se na história colonial pela resistência aquando do recrutamento para o xibalo, colaborando apenas no pagamento do imposto de palhota.

Das subdivisões de Mucucune, nomeadamente Ilha Grande, Gijivane, Guilalene, Ilha dos Gatos, Ilha dos Ratos, o mais famoso é Ilha dos Ratos por causa da singularidade de sua história. 

Segundo César Nhanala, natural e residente em Mucucune, o bairro Ilha dos Ratos teve como o primeiro habitante o senhor Guilala, proveniente de Zavala. O sobrinho deste, conhecido por Malajisa, grande mercador então, conseguiu alcançar a pequena ilha durante as actividades de pesca.

Conta Nhanala que Malajisa teve um filho, Nhalijingu (pescador e cultivador de coqueiros), que foi pedir ao bisavô Guilala um lugar para fixar sua residência, ao que este lhe indicou a Ilha onde o pai frequentava na sua actividade pesqueira.

O nome Ilha dos Ratos provém de um episódio envolvendo gatos e ratos ocorrido no palmar de Nhalijingu, que na época sofria muitos ataques de ratazanas. Ameaçado pela calamidade dos roedores, o proprietário resolveu enfim viajar até à vila pedir gatos ao presidente da Câmara Municipal. 

Os gatos trazidos à ilha alimentavam-se de mariscos que o pescador apanhava, comida apreciada também pelos ratos. A rapidez com que os gatos eliminaram os ratos – servindo-se dos mariscos como isca – deu assim origem ao nome desta área de Mucucune.  

Curiosidades sobre a Ilha de Mucucune

A história de Mucucune está envolta também de superstições. Luís Camburra refere que no passado, quando uma criança fosse à casa vizinha pedir sal, farinha de milho ou qualquer outro producto enquanto estivesse lá um hóspede, se lhe fosse satisfeito o pedido, o dito hóspede ou perdia-se e não chegava à casa, ou se chegasse, morria.

Há muito tempo não se admitia que os nativos de Mucucune fizessem parte da força militar, pois se associava o militarismo à violência, dada a experiência com os militares da época, que abusavam das mulheres que encontrassem na rua sem se importar com a sua proveniência.

A base de sobrevivência em Mucucune é a pesca. “Qualquer casa na ilha tem rede de pesca de camarão”, refere a nossa fonte. Mais ainda, muitas pessoas neste sítio têm coqueiros, uma riqueza para quem os possui. O coco é o ingrediente principal aliado das donas de casa locais e, de modo geral, em todas as verduras é quase que obrigatório que sejam adicionados mariscos.

A Ilha de Mucucune, para além da via marítima (de barco feito de material local) e rodoviária (de carro ou outro veículo motorizado), pode igualmente ser alcançada a pé através do mar, numa caminhada de 20 minutos, tendo-se o cuidado apenas de controlar a maré.

Mucucune é um bairro destacado pela sua vegetação, hospitalidade dos habitantes, o seu modo de vida, como os hábitos alimentares, e futuramente este poderá ser, como partilha Luís Camburra, um local bastante atractivo para visitantes.

Escrito por Vanila Amadeu para Tsevele

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