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terça-feira, 22 setembro 2020 18:19

Eharussi ou virgindade feminina: um legado de “pureza”

Virgindade ou Eharussi, em língua emakhuwa é um dos mais antigos legados de pureza das raparigas que posteriormente se tornam mulheres, depois de um casamento “condigno”, que consiste no pagamento de um dote de insumos ou dinheiro aos pais da noiva, que é simbolismo de aceitação ou permissão dos pais da noiva ao noivo e sua família, a possuir a noiva como sua esposa. Esta cerimónia, que quase se assemelha ao lobolo praticado no sul do país, é designada Mahari, uma palavra de origemÁrabe, o que demonstra a origem desta prática cultural na Ilha de Moçambique.

Acredita-se que eharussi ou virgindade é simbolismo de honra, respeito aos pais vivos, bem como aos antepassados da noiva ou do noivo. Acredita-se que quando uma rapariga casa-se por meio de Mahari ainda virgem ou “pura”, transmite um sentimento de honra aos pais, e para demonstrar a sua satisfação, estes passam a herança de bens aos noivos, como forma de elogio e encorajamento para que as futuras gerações mantenham a prática.
Existe uma ligação intrínseca entre a virgindade e a prática de mussiro, pois a rapariga antes de se casar, é obrigada a colocar a máscara do mussiro até no dia do seu casamento, quando esta é dada um banho do mussiro por todo corpo, visto que esta planta medicinal que tem o poder de purificar e ou amaciar o corpo da donzela que esta prestes a ser tomada como esposa.

É imprescindível falar de mahari na sociedade ou nos povoados do Distrito da Ilha de Moçambique, visto actualmente, o Harussi ou eharussi (virgindade) passou a ser tratada como uma fonte de renda. Se um rapaz, seja ele viente ou nativo, se envolver sexualmente com uma rapariga virgem sem ter primeiro falado ou pedido uma autorização dos pais, segundo a tradição local, este é queixado no tribunal local e paga uma multa que varia de 5 mil a 10 mil meticais, e é obrigado a comprar jóias de ouro puro como ꞉ anéis, colares, assim como vestidos, que são chamados de massungui em língua nahara ou emakhuwa da Ilha de Moçambique, um tipo de vestidos típicos da cultura árabe; deve também construir uma casa, uma cama casal e colchão, mantas e lençóis etc. Tudo isso serve de punição e exemplo de disciplina, para desencorajar a prática pelos outros rapazes.

Igualmente, nos dias que correm, a virgindade ou Eharussi na Ilha de Moçambique tornou-se uma fonte de oportunismo, onde algumas raparigas alegam serem virgens quando se envolvem com visitantes, particularmente estrangeiros, como forma de obrigá-los a pagar o dote, um tipo de lobolo indesejado, como forma de recompensar os pais das raparigas.

Escrito por Emanuel Mahira para Tsevele.

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