Um pouco por toda a província da Zambézia é comum que os pais de um recém-nascido questionem a qualquer um que queira carregar o seu bebé se manteve relações sexuais na noite anterior ou naquele mesmo dia. Para não expor o visitante, a questão costuma ser normalmente colocada de forma irónica : “ estás quente?” , caso a resposta seja sim ou seja, a pessoa tenha mantido relações sexuais, não deve tocar na criança sob o risco do bebé ter viriga.
Xibehe (pronunciado txibehe) é um alimento que, assim como o óleo de mafurra, acompanha a diversidade gastronómica dos machopes já há anos. Este também é derivado da mafurra.
A sua produção consiste no aproveitamento do bagaço do qual foi extraído o munhazi ou ntona. Portanto, depois do processo de extracção do ntona, deixa-se o conteúdo restante a ferver, num fogo brando, para evitar a queimadura. Uma vez acabada a água, o conteúdo deverá, segundo refere Margariga, já se ter transformado em uma pasta sólida. “Depois de atingir este ponto de consistência, tira-se do fogo para arrefecer. Já arrefecido, o produto está pronto para ser moldado com as mãos em formato de pequenas arrofadas, que deverão ser expostas ao sol para secar entre uma a duas semanas”. A nossa entrevistada aponta para a importância de uma boa secura como elemento crucial para melhor e mais duradoira conservação. Assim, o xibehe pode ser mantido por mais de um ano, se for colocado em ambiente fresco e seco.
O consumo deste alimento pode ser efectuado mesmo antes de ser moldado em rodelas e colocado a secar ao sol. Carlos Amadeu confessa que esta é a sua forma de consumo favorita. Neste caso, ele é simplesmente servido no prato, consumido simples ou com mandioca cozida, ou ainda colocada a pasta no caril de peixe a coco. Já o xibehe seco por duas semanas, também pode ser consumido da mesma forma, para tal deverá ser pilado para transformá-lo em farinha que possa facilitar a mistura com os outros alimentos. Este também pode, como culturalmente os machopes fazem, ser consumido no caril de folhas de batata-doce ou de thseke, quando cozido a coco.
Curiosidades
Escrito por Vanila Amadeu para Tsevele.
Munhazi em língua Citswa, Ntona em língua Cicope (ou XiChope, ou simplesmente Chope), é azeite de Mafurra uma fruta silvestre consumida sobretudo na zona sul de Moçambique, entre os meses de Dezembro à Março. O ntona ou munhazi é uma referência infalível e obrigatória na gastronomia do povo machope. Os machopes são uma etnia que habita predominantemente os distritos de Inharrime e Zavala, província de Inhambane, e uma parte do norte de Gaza, na zona sul de Moçambique.
Nzhumba é o nome de uma dança originária dos antigos povos da África Austral, tendo Maguiguana como a principal referência que permitiu que esta expressão cultural chegasse ao povo moçambicano.
Virgindade ou Eharussi, em língua emakhuwa é um dos mais antigos legados de pureza das raparigas que posteriormente se tornam mulheres, depois de um casamento “condigno”, que consiste no pagamento de um dote de insumos ou dinheiro aos pais da noiva, que é simbolismo de aceitação ou permissão dos pais da noiva ao noivo e sua família, a possuir a noiva como sua esposa. Esta cerimónia, que quase se assemelha ao lobolo praticado no sul do país, é designada Mahari, uma palavra de origemÁrabe, o que demonstra a origem desta prática cultural na Ilha de Moçambique.
Mukakatsuco ou mukakatsa é o nome de um prato tradicional dos povos do Cabo São Sebastião, no distrito de Vilankulo, província de Inhambane. O mesmo é preparado à base de feijão nhemba e farinha de mandioca seca.
O Mussiro ou N'ssiro, em língua emakhuwa é um creme tradicional extraído do caule da planta homónima. De nome científico Olax dissitiflora, da família das Olocaceae terá começado a ser usado a partir do século X, sobretudo nos distritos costeiros da Ilha de Moçambique, Angoche, Moma, Mossuril.
Sereia ou sirena é uma figura presente na crença local do povo de Magaruque referindo-se a uma representação feminina que vive nas águas do mar, capaz de enfeitiçar os homens para junto delas. Na região de Magaruque as sereias são conhecidas por njhonji.
Caminhar sobre as ruas quentes da cidade de Quelimane sem ter que passar pela avenida Marginal, uma rua que se situa na margem norte do histórico “rio dos bons sinais” é como ler um livro sem ter apreciado a “introdução”, pois, da margem norte do rio dos bons sinais, é o Rio dos Bons Sinais que introduz geograficamente a cidade de Quelimane.
Khalango, Galango, Guicalango, ou Nikhalago, dependendo da região, é nome da panela de fabrico caseiro com base no barro ou argila, cuja origem remonta desde os tempos da expansão dos povos Bantu (povos habitantes da região sul do Sahara , por volta do segundo milénio antes de Cristo).
Fizemos uma viagem até à, ao encontro damamã Celeste, acompanhados pelo chilrear dos pássaros que de árvore em árvore pousavam, transmitindo-nos mensagem de boas vindas.